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A história da língua inglesa envolve conquistas e derrotas, bilinguismo e contato linguístico, além de um idioma que incorpora de forma voraz palavras de toda comunidade que toca.

Quase nunca é claro quando uma língua “nasce”, pois as pessoas estão sempre se comunicando e grandes mudanças linguísticas não acontecem de um dia para o outro. Na verdade, um idioma “nasce” aos poucos, tipicamente quando a forma de comunicação de um grupo fica cada vez mais diferente de como membros dele se comunicavam antes. Isso pode acontecer porque esse grupo se mudou e não tem mais contato com os seus antigos vizinhos, ou porque outras pessoas chegaram no local com o seu próprio idioma, ou porque alguma experiência ou mudança cultural em particular sofrida por esse grupo aumentou as diferenças.

No caso do inglês, a resposta é: todas as anteriores!

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Onde começa a história da língua inglesa?

Se você apostou que o inglês veio da Inglaterra, acertou — mais ou menos. E se apostou que ele não veio da Inglaterra, também meio que acertou!

Se aterrissasse 1.600 anos atrás no sul do território que hoje chamamos de Inglaterra, a gente se encontraria em uma terra de muitos pequenos grupos, reinos e tribos, além de um panorama linguístico complexo. Haveria falantes de línguas celtas, como a que acabou se tornando o galês, e soldados romanos falando um ou mais dialetos do latim — sem contar que muitos celtas também falariam latim.

Ou seja, em termos linguísticos, essa ilha relativamente pequena era bem agitada!

Por volta do século V, diversos grupos de pessoas do norte da Europa (principalmente do que hoje são a Alemanha e a Dinamarca) se mudaram para o sul dessa ilha. Eles se chamavam anglos, saxões e jutos. Todos eram germânicos, ou seja, se diferenciavam dos celtas e romanos que já estavam ali em termos culturais, étnicos, religiosos e linguísticos. Não temos clareza de como foi a dinâmica entre os recém-chegados e os outros grupos, mas no fim o inglês se tornou o idioma da Engla lond (“terra dos anglos”). Hoje chamamos essa variante de inglês antigo.

Mas isso foi só o começo. Alguns séculos depois, chegariam pessoas de origem escandinava (vikings!) que falavam idiomas provenientes dos lugares que hoje chamamos de Suécia, Noruega e Dinamarca.

O inglês não é uma língua românica?

Algumas partes da história da língua inglesa podem surpreender, dado o quanto esse idioma tem em comum com outros, como o francês. Porém o inglês não é uma língua românica, como a francesa, mas sim germânica, ligada a outras línguas germânicas do norte da Europa, como o alemão, o holandês, o sueco, o dinamarquês e o gótico (que não é mais falado). No entanto, o vocabulário do inglês tem muitas interseções com outros idiomas, especialmente o francês!

O motivo é que o inglês continuou a evoluir após ter aparecido no sul da Inglaterra, e talvez o maior fator tenha sido a língua francesa. Bom, não a que conhecemos hoje. Mil anos atrás, no território que agora é a França, os dialetos latinos estavam se misturando com os idiomas locais celta, germânico e escandinavo. Um deles era o normando, dialeto do francês falado na Normandia, região francesa próxima ao Canal da Mancha, que se atravessa para chegar à Inglaterra.

A grande virada foi em 1066: Guilherme, o Conquistador (também conhecido como Guilherme da Normandia) e os normandos invadiram a Inglaterra e se estabeleceram como a nova classe dominante. Por séculos, os falantes de inglês adotaram muito vocabulário do normando, inclusive o associado com prestígio, educação, governo e coisas “chiques” como culinária e arte. Essas palavras normandas foram inseridas na gramática germânica, e muitas dessas palavras e regras gramaticais sobreviveram a todos esses séculos!

Se olharmos para a parcela de palavras inglesas que foram empréstimos de outros idiomas, principalmente do latim e do francês, o número é imenso: chega a 80%. Mas essa estimativa engana, porque o grande número de palavras dicionarizadas na língua inglesa não representa as palavras realmente usadas no dia a dia. Por exemplo, os dicionários contêm vocabulário técnico e científico, que geralmente vem do latim e do grego. Veja a seguir outras estatísticas sobre o vocabulário da língua inglesa:

  • Das 100 palavras mais comuns em inglês, 96 vêm do inglês antigo e outras 3 (they, them, their — em português, respectivamente, “eles/elas” como agentes de uma ação, “eles/elas” como objeto do verbo e “deles/delas”) vêm do nórdico antigo e já estavam em uso no inglês antigo. A outra palavra dessas 100 não vem de nenhum desses dois idiomas que mencionamos: é a palavra very (em português, “muito”), do francês antigo!
  • Das 100 palavras na lista de Swadesh (uma proposta de listar um vocabulário essencial, que seria mais resistente às mudanças linguísticas), 88 vêm do inglês antigo, outras 4 vêm do nórdico antigo e o resto, do latim e do francês. Esse rol inclui alguns números, termos relativos a familiares próximos, artigos (como the, artigo definido como “o/a/os/as” em português), palavras usadas para fazer perguntas (como what, ou “o que”), as principais partes do corpo e necessidades (como eat e drink, ou “comer” e “beber”) e vocabulário básico relacionado à natureza e animais.
  • Dos 100 substantivos mais comuns em inglês atualmente, cerca de metade vem do inglês antigo: 44 diretamente desse idioma e outros 4 do francês antigo, nórdico antigo ou latim, mas que eram usados no período do inglês antigo. E aposto que você já adivinhou de onde vem o resto: do francês e do latim.

Como era o inglês antigo?

Apesar de ter sido falado mais de mil anos atrás, sabemos muito sobre o inglês antigo porque ele é muito bem-documentado. É fácil encontrar o poema épico Beowulf (felizmente, junto com a tradução para o inglês moderno 😅) em livrarias e na internet. Alfredo, rei dos saxões ocidentais, encorajou que se escrevesse muita história e literatura no dialeto saxão ocidental do inglês. Esse dialeto acabou se tornando o padrão do inglês antigo!

Para um falante do inglês moderno, a sua versão antiga parece um idioma completamente diferente, tanto na aparência das palavras por escrito quanto na sonoridade. Para entendê-lo, seria necessário estudar como se estuda qualquer idioma novo! E se você é falante de inglês e já se frustrou com alguma característica de um idioma europeu que estava aprendendo, tenho uma notícia: o inglês antigo provavelmente tinha essa mesma característica. Por exemplo, você já se perguntou…

Nossa, e esses tais de gêneros gramaticais? O inglês antigo tinha três categorias de gênero.

Por que tem tantas conjugações verbais?! Os verbos do inglês antigo tinham muitas variações de acordo com o sujeito e o tempo verbal.

Será que as pessoas lembram mesmo de todas essas terminações nos substantivos? O que é o “dativo”, afinal?! Os substantivos do inglês antigo tinham terminações diferentes para (pelo menos) quatro casos gramaticais.

O inglês antigo tinha ainda mais em comum com outros idiomas germânicos do que o moderno em termos de pronúncia, vocabulário, gramática e ordem das palavras na frase. Aqui estão algumas características que você encontra no inglês antigo:

  • Letras diferentes: O inglês antigo tinha muitas combinações de letras e diacríticos (marquinhas como os acentos) que não usamos hoje em dia. Também contava com algumas letras que caíram em desuso, inclusive duas que são representadas pelo “th” no inglês moderno: uma para o som inicial em think (þ, chamada de letra “thorn”) e outra para o som inicial em those (ð, chamada hoje de “eth”).
  • Substantivos masculinos, femininos e neutros: Todos os substantivos em inglês antigo tinham um gênero gramatical. E quão arbitrário era esse gênero? Quer dizer, havia lógica para uma palavra ser de um gênero e não de outro? A palavra wīf, que significava “esposa” ou “mulher”, era neutra, enquanto outra palavra para “mulher”, wīfmann, era masculina!
  • Quatro casos para os substantivos: Os substantivos do inglês antigo tinham formas diferentes dependendo do papel que ocupavam em determinada frase. Era um objeto direto? Um sujeito? Cada substantivo tinha uma forma para os casos nominativo, acusativo, genitivo e dativo. Além disso, havia terminações diferentes para o singular e o plural, assim como para os três gêneros gramaticais 🤯
  • Pronomes formais e informais: No inglês antigo, havia formas diferentes de dizer “você”, dependendo do grau de formalidade com a pessoa: þu (pronuncia-se “thu”, com o som do “th” como em think) era usada em situações informais, enquanto ge (pronuncia-se “iei”) era formal. Você consegue dizer qual dos dois caiu em desuso e qual deles se tornou formal e informal?

Qual a diferença entre inglês antigo, médio e moderno?

Em termos gerais, inglês antigo foi a versão da língua anglo-saxã falada do século V ao XI e inglês médio foi o estágio do idioma do século XI ao XV, quando tecnicamente começou o inglês moderno, antes mesmo do nascimento de Shakespeare! Na verdade, todas as línguas passam por fases e grandes mudanças em sua evolução: também podemos falar de francês antigo, árabe clássico, vietnamita moderno etc.

“Antigo”, “médio” e “moderno” são distinções feitas por linguistas atualmente como um auxílio para se referir a características gerais e influências em diferentes momentos históricos, mas sabemos que mudanças e novas fases de um idioma não acontecem da noite para o dia. Muitas delas foram bem graduais e levaram séculos para se completar! Veja a seguir os estágios seguintes da história da língua inglesa:

Inglês médio

Quando: Por volta do século XI ao XV. Tradicionalmente, se determina que o início do período do inglês médio é a Invasão Normanda de 1066.

Características: Perda do gênero gramatical e da maior parte das terminações de caso dos substantivos. Entretanto, o caso genitivo germânico permaneceu; então, para dizer que algo pertencia a alguém, ainda se adicionava -es ao final, como em a sowes erys (em inglês moderno, a sow’s ears, ou seja, as orelhas de uma porca). A ordem das palavras se tornou menos flexível. Muito do vocabulário anglo-saxão foi substituído por palavras do normando e de estágios mais recentes do francês. Teve início a Grande Mudança Vocálica, quando a pronúncia das vogais do inglês médio começou a mudar e metade delas adquiriu uma pronúncia completamente diferente dentro de alguns séculos. Se você já se estressou com o fato de que a pronúncia do inglês não tem muito a ver com a ortografia das palavras (ou seja, não dá para adivinhar como se fala uma palavra nova apenas olhando para como se escreve), você se estressou com a Grande Mudança Vocálica.

Maiores influências: O francês, o francês e, ah, também tem o francês. Muitas palavras de origem latina entraram no inglês por meio do francês nesse estágio, e por isso o inglês conta com palavras de origem no inglês antigo — como ghost (“fantasma”), house (“casa”) e cow (“vaca”) — ao lado de palavras de origem francesa mais sofisticadas — como spirit (“espírito”), domicile (“domicílio”) e beef (“carne bovina”). Ocasionalmente o inglês adquiriu palavras francesas duas vezes, com séculos de diferença ou de diferentes dialetos do francês, o que resultou em pares de palavras emprestadas desse idioma! Por exemplo, cattle (“gado”) veio do normando, enquanto chattel (“bens móveis”) veio do francês central séculos depois.

Onde encontrar: Em Os Contos da Cantuária de Geoffrey Chaucer e na versão original de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde — não confundir com o muito moderno A Lenda do Cavaleiro Verde (https://www.imdb.com/title/tt9243804/).

Inglês moderno

Quando: Desde por volta do século XV até hoje. A morte de Geoffrey Chaucer é um tipo de marco informal do fim do inglês médio e início do inglês moderno — o que significa que, quando se escreve em inglês hoje, se utiliza o mesmo tipo básico do idioma em que Shakespeare escreveu quatrocentos anos atrás. Claramente o inglês ainda sofreu muitas mudanças nesse período! Mas lembre-se que a mudança linguística é um processo geralmente gradual.

Características: A evolução da terminação -es do caso genitivo da língua germânica antiga para denotar posse, que hoje é o ’s em the child’s toy (“o brinquedo da criança”) e the team's win (“a vitória do time”). Nos últimos dois séculos, surgiram convenções para uma ortografia mais padronizada. As conjugações verbais sofreram uma redução significativa, então a maioria dos verbos têm apenas duas formas no presente (por exemplo, o verbo “falar” tem apenas talks para a terceira pessoa do singular e talk para todas as outras) e um ou dois tipos de passado (apenas talked para o verbo “falar”, ou saw e seen para o verbo “ver”, dependendo da situação). Muitos novos dialetos do inglês criaram raízes ao redor do mundo.

Maiores influências: Colonização, escravagismo e globalização. Quando os colonizadores ingleses se espalharam e se estabeleceram em todo o planeta, levaram consigo o seu idioma — geralmente junto com a destruição dos povos, línguas e culturas que lá havia. Como idioma da classe dominante e às vezes como língua franca, o inglês desenvolveu novas variedades (como o inglês indiano) que incorporaram palavras e estruturas gramaticais das comunidades colonizadas, influenciou outros idiomas (palavras inglesas são adotadas o tempo todo por línguas tão geograficamente distantes quanto o francês e o tailandês), deu origem a novas línguas pidgin e crioulas (como o idioma crioulo jamaicano e o pidgin inglês de Camarões e se tornou o idioma de referência em algumas situações multilíngues (como em qualquer hostel em que já me hospedei).

Onde encontrar: Nas peças e sonetos de William Shakespeare, na música de Billie Holiday (e também na de Billie Eilish), no The Daily Show com Trevor Noah e na coluna Querido Duolingo.

Inglês ao longo do tempo

Não é difícil notar as diferenças na língua inglesa com exemplos por escrito! Veja uma amostra dos diferentes períodos com um texto que foi traduzido e atualizado em cada fase: a oração cristã “Pai Nosso”, que em inglês se chama Lord's Prayer.

Lord’s Prayer (em inglês) Você percebeu?
Inglês antigo Úre Fæder, þú þe eart on heofonum
sí þín nama gehálgod.
Tócume þín ríce.
Uso de acentos e duas letras desconhecidas para nós (þ e æ). Ríce (pronunciada mais ou menos como “rítche”), a palavra usada para “reino”, não é muito diferente do Reich alemão. Se você sabe que ge- e são prefixos, não fica difícil enxergar a palavra moderna hallowed (“bendito”) em gehálgod e come (“venha”) em tócume.
Inglês médio Oure fadir that art in heuenes,
halewid be thi name.
thi kyngdoom come to.
Agora começou a ficar mais reconhecível! As convenções ortográficas mudaram, causando a perda ou redução de muitos prefixos e sufixos. O ríce do inglês antigo foi substituído por outra palavra em inglês, kyngdoom.
Início do inglês moderno Our father which art in heauen,
hallowed be thy name.
Thy kingdome come.
Fácil de entender, mesmo com algumas coisas estranhas na ortografia. O pronome (que inicialmente era informal) thy (“vosso”) e a conjugação verbal art (“estais”) já haviam praticamente caído em desuso na fala comum, porém ainda eram utilizados em alguns contextos religiosos.

Inglês, um idioma com tanta diversidade quanto quem o usa

Como acontece com a maioria dos idiomas, a história da língua inglesa é cheia de mudanças e adaptações, dado que as pessoas que a utilizavam evoluíram cultural e politicamente — além de conquistar outros povos, que foram forçados a sofrer mudanças linguísticas junto. Por isso, as variedades do inglês que usamos hoje em dia refletem influências de todo o mundo. Eu optei por acreditar que a banda britânica Modern English estava falando da atitude da língua inglesa em relação aos empréstimos linguísticos quando escreveu “I'll stop the world and melt with you”, ou “Vou parar o mundo e derreter com você”.

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