O Tour de France, também conhecido no Brasil como “Volta da França”, é uma das mais famosas e importantes competições de ciclismo do mundo todo. Nós aqui do Duolingo nos inspiramos nesse evento para realizar o nosso próprio “Tour da Língua Francesa”! A programação inclui outros posts (em inglês) que abordam desde a história do francês até o significado dos acentos usados nesse idioma e outros países onde também se fala essa língua. Esta é a última etapa do nosso tour — continue lendo até a linha de chegada para ganhar a sua camisa amarela (concedida ao líder da prova) no francês!

Ilustrações coloridas dispostas lado a lado sobre um fundo vermelho: o Museu do Louvre com a pirâmide na frente dele, um crepe de morango com calda de chocolate, a Torre Eiffel, um prato de macarons em cores pastel e a Catedral de Notre-Dame.

Alors, mes amis… O Tour da Língua Francesa está chegando ao fim! No post sobre a história desse idioma (em inglês), eu falei que o francês é usado pelo mundo todo e que as suas variedades podem ser muito diferentes. Agora, na última etapa do nosso tour de aprendizado, vamos dar um passeio de bicicleta por alguns desses dialetos!

Francês de Paris

Essa variedade, também conhecida como “francês europeu padrão” ou “francês metropolitano”, é considerada a forma de prestígio utilizada na França — além de ser o dialeto que você provavelmente vai aprender se fizer um curso. O francês parisiense se tornou a variedade-padrão por causa da localização geográfica de Paris, que fica no centro da França, e da sua importância política e cultural.

  • Pronúncia: a maioria dos falantes desse dialeto não diferencia mais o som de “ê” (como na palavra “cabelo” em português) e o som de “é” (como em “martelo”) quando eles aparecem no fim das palavras. Isso significa que muitos verbos são pronunciados da mesma forma nos tempos futuro do presente e futuro do pretérito. Por exemplo, je ferai (eu farei) e je ferais (eu faria) têm a mesma pronúncia. Então como as pessoas sabem qual é qual? Principalmente pelo contexto, mas muitas vezes até os falantes experientes confundem os dois na hora de escrever!
  • Gramática: para formar frases na negativa, a regra tradicional é colocar o verbo no meio da expressão ne… pas, como em je ne mange pas (eu não como). Contudo, na linguagem falada, muitas vezes o ne é omitido: je (ne) mange pas. Ele será pronunciado ou não dependendo da rapidez da fala e do nível de formalidade, entre outros fatores, mas hoje em dia geralmente não aparece. 
  • Língua e gênero: pouco a pouco, o francês-padrão tem começado a aceitar o uso de formas femininas para falar de profissões, embora elas já sejam utilizadas no francês do Quebec desde 1989. Essas formas mais recentes incluem professeure (professora), ingénieure (engenheira), présidente (presidenta), cheffe (chefa) etc. Somente em 2019 elas finalmente foram consideradas aceitáveis pela Academia Francesa, uma associação de proteção ao idioma que busca minimizar mudanças linguísticas originadas por forças externas.

Francês do Quebec

Variedade predominante da língua francesa falada no Canadá, esse dialeto tem como base o francês usado em Paris durante os séculos 17 e 18. Naquela época, os europeus estavam colonizando a América, e a realeza francesa enviava parisienses para morar na Nouvelle France (Nova França), que hoje corresponde ao Quebec. A partir do momento em que o francês europeu padrão começou a ser falado por lá, ele evoluiu de maneira diferente daquele usado em Paris, pois estava em contato com o inglês e várias línguas ameríndias das comunidades ao seu redor.

  • Pronúncia: quando o “t” e o “d” estão antes das vogais “i” e “u”, o som do “t” é pronunciado como “ts” (como o “zz” em “pizza”), e o som do “d” é pronunciado como “dz” (como “dis” em “disjunção”, mas falado bem rápido). Dessa forma, petit (pequeno) se fala petsi, e mardi (terça-feira) se pronuncia mardzi.
  • Gramática: no francês quebequense informal, geralmente se adiciona -tu depois de verbos conjugados em perguntas que podem ser respondidas com “sim” ou “não”, por exemplo: T’as-tu fini ? (Você terminou?).
  • Gírias locais: se você for para o Quebec, vai ouvir muitas palavras com significados exclusivos de lá, como un chum (um amigo ou namorado), un char (um carro), un dépanneur (uma loja de conveniência) e magasiner (comprar). Algumas dessas expressões também existem no francês europeu padrão, mas com significados completamente diferentes. Por exemplo: na França, un char tem significados como “um tanque de guerra” ou “uma carruagem”, enquanto un dépanneur é “um mecânico” — e isso às vezes cria alguns desentendimentos engraçados entre os dialetos! 

Francês da Costa do Marfim

Essa variedade é uma das línguas oficiais da Costa do Marfim (Côte d’Ivoire), que fica na África Ocidental. Os colonizadores levaram o francês até lá no fim do século 19, e ele ainda é ensinado nas escolas. O francês marfinense é uma língua franca desse país, assim como o diúla, um idioma indígena também falado nos vizinhos Mali e Burkina Faso.

  • Pronúncia: os franceses pronunciam o “j” da mesma forma que nós, mas, no francês da Costa do Marfim, ele geralmente é pronunciado como “z” ou “i”. Assim, palavras como je (eu) são pronunciadas como “zã” ou “iã” em vez de “jã”.
  • Mais pronúncia: nessa variedade, assim como em muitas outras línguas, a fala não admite grandes sequências de consoantes. Por exemplo, no francês-padrão, parce que (porque) se pronuncia parske, com três consoantes (“rsk”) seguidas, mas no francês marfinense se pronuncia paske ou pake.
  • Empréstimos: diversas palavras desse dialeto vieram de línguas indígenas faladas na região, como o diúla e o moré. Dois exemplos são woro-woro (táxi compartilhado) e ligid (dinheiro).

Francês da Suíça

Essa variedade é falada na parte oeste do país, que faz fronteira com o centro-leste da França e é conhecida como Romandia. Nessa região já se usou o franco-provençal, falado hoje em uma das três zonas dialetais do território francês continental. Pouco a pouco, a língua francesa foi se tornando mais presente na Suíça, com os dialetos franco-provençais se consolidando e se expandindo por lá no começo do século 19. Em 1848, com a fundação da Confederação Suíça, o francês foi reconhecido como uma das línguas oficiais, junto com o alemão e o italiano.

  • Pronúncia: dizem que os falantes do francês suíço falam mais lentamente que os falantes do francês-padrão (pelo menos 6% mais devagar, podendo chegar a até 20%!). Entretanto, a diferença mais marcante é onde eles colocam a ênfase nas palavras e frases. No francês da França, a sílaba mais forte é a última, então as saudações bonjour e salut são pronunciadas BonJOUR e SaLUT. Já no francês da Suíça, a sílaba mais forte é a penúltima, então as pronúncias são BONjour e SAlut. Essa diferença faz com que os ouvintes achem o francês suíço mais “cantado”!
  • Gramática: na fala, geralmente se usa Y  para substituir os pronomes-objeto le ou la (quando eles significam “o” ou “a”), então você vai ouvir Si tu y fais, fais-y bien ! (Se você o fizer, faça-o bem!). 
  • Contagem: assim como o português, o francês suíço usa um sistema de contagem de base 10, então “setenta” (7×10) é septante, “oitenta” (8×10)  é huitante, e “noventa” (9×10) é nonante. O francês-padrão, por sua vez, usa um sistema de base 20 para “oitenta” e “noventa”, de modo que esses números são chamados respectivamente de quatre-vingts (4×20) e quatre-vingt-dix (4×20+10).

Francês da Reunião

Esse dialeto é falado na Ilha Reunião, que fica no Oceano Índico, a leste de Madagascar e a sudoeste das Ilhas Maurício. A ilha foi ocupada pelos franceses desde aproximadamente 1640 até 1946, quando foi declarada departamento ultramarino da França.

  • Pronúncia: o som do “r” no francês da Reunião se transformou com o passar do tempo e agora é pronunciado igual ao “u”, como em [u]ouge (vermelho) and [u]aison (razão). 
  • Liaison: esse dialeto quase não tem resquícios da liaison (em inglês)! Isso significa que les amis (os amigos), que se pronuncia “lez ami” em outras variedades do francês, é pronunciado como “le ami”, sem o som do “z” ligando as duas palavras.
  • Empréstimos: há muitas palavras características do francês da Reunião provenientes de outros idiomas, como português, malgaxe, híndi, gujarati e tâmil, que se misturaram na ilha por conta da sua localização na rota comercial entre a Europa e a Ásia. Alguns exemplos incluem shabouk (chicote), bibe (sorriso) e kamaron (camarão).
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E agora, uma mensagem do patrocinador do nosso Tour da Língua Francesa: o Duolingo!

Obrigado por participar com a gente!

Nous sommes arrivé.e.s ! (essa é uma das formas de expressar inclusão de gênero em alguns dialetos do francês!). Você chegou à Champs-Élysées, a etapa final do nosso Tour da Língua Francesa. Estamos muito felizes por você ter embarcado com a gente no aprendizado desse idioma e encontrado novas maneiras de se conectar com essa língua global. Para reviver as memórias e continuar praticando, consulte as etapas anteriores aqui:

A boa notícia sobre esta “corrida” é que você não precisa esperar um ano inteiro para pedalar por esses posts de novo ou ficar em dia com os seus estudos de francês. Estamos sempre disponíveis para responder a perguntas sobre os dialetos, a pronúncia e a gramática da língua francesa, entre outros assuntos — e vamos publicar novos artigos aqui no blog do Duolingo para ajudar você na sua jornada de aprendizado. Enquanto isso, faça uma lição, confira o nosso podcast de francês (para quem fala inglês) e fale com a gente no X (antigo Twitter), no Instagram ou no TikTok para contar qual etapa do tour foi a sua preferida!

Agradecemos às nossas colegas e autoras convidadas que nos ajudaram a compilar esta série de posts:

Dra. Sharon Wilkinson
Dra. Lisa Bromberg
Dra. Amanda Dalola