Chegamos a mais uma semana da Querido Duolingo, uma coluna de dicas para quem estuda idiomas. Confira as nossas publicações anteriores aqui.

Olá, aprendizes! Estamos de volta esta semana com uma pergunta que passa pela cabeça de todo aprendiz — e é especialmente relevante para aqueles de vocês que buscam altos níveis de proficiência em seu novo idioma.

Nossa pergunta esta semana:

Ilustração de uma carta para a coluna Querido Duolingo que diz: Querido Duolingo, eu adoro estudar francês! Mal posso esperar até poder usá-lo no mundo. Então minha pergunta é: qual é a sensação de ser bilíngue? Obrigado, De Olho no Prêmio

Que pergunta natural para os monolíngues fazerem! Você se acostuma a pensar, falar e até sonhar em um idioma, então como é ter um segundo (ou terceiro, ou sexto, ou 20º) rolando em seu cérebro? É meio difícil de descrever!

O bilinguismo é mais complicado do que parece: existem muitos tipos de multilíngues, e quase todos os multilíngues têm diferentes proficiências e graus de conforto com cada idioma. E essas proficiências e o equilíbrio entre os idiomas também mudam ao longo de toda a sua vida! Conhecer vários idiomas (ou dialetos) é um ato de equilíbrio entre aumentar ou diminuir o “volume” dos idiomas dependendo da situação.

Esta semana conversei com alguns multilíngues no Duolingo para obter suas reflexões sobre como é conhecer vários idiomas!

Ser bilíngue… é incrível!

Rick (Gerente de Análise de Marketing): Eu me sinto como um mago da linguagem! É especialmente legal quando as pessoas comentam sobre a rapidez com que você consegue alternar entre dois idiomas.

Anônimo (Engenheiro de Software): A vida é mais rica e completa por causa da variedade de pessoas com quem você pode conversar, conversas que você pode ouvir sem ser notado e música, livros, arte e memes que você pode apreciar. Embora nós, como humanos, falemos línguas diferentes, compartilhamos as mesmas emoções, sentimentos e experiências e é bom ter acesso a mais vocabulário para falar sobre eles.

Ramsey (Gerente Sênior de Comunicações): Tendo experimentado tanto o monolinguismo quanto o multilinguismo, foi meio transcendente adquirir essa nova consciência metalinguística, percebendo o quão arbitrária e flexível é a linguagem.

Nat (Engenheiro da Equipe de Software): Sempre que leio um trabalho traduzido do russo para o inglês, às vezes me pego traduzindo-o de volta para o russo na minha cabeça, especialmente se for uma frase obscura na tradução. Parece uma pequena piada interna todas as vezes!

Aspen (Especialista em Garantia de Qualidade): É emocionante ajudar pessoas que só falam espanhol. Mais recentemente, um homem de Honduras se perdeu no aeroporto e eu pude ajudá-lo a pegar um táxi para onde ele precisava ir! Eu também tive um motorista do Lyft uma vez da Venezuela que me contou sua história de ser um refugiado e se mudar para os Estados Unidos. Ser capaz de se conectar com outras pessoas na língua nativa delas é algo muito especial.

Ser bilíngue… é cheio de surpresas

Rick: Às vezes sonho com meus amigos que falam inglês, mas eles falam holandês no meu sonho… o que é estranho!

Kolja (Cientista de Dados Sênior): Muitas vezes me pego pensando em uma piada, mas não consigo contá-la a ninguém porque está em um idioma que a outra pessoa não entende ou é um jogo de palavras em vários idiomas e, portanto, muito nichado.

Anônimo (Engenheiro de Software): Algumas coisas são ditas *mais alto* em certas línguas. Aprendi sobre a Doutrina Monroe e a Operação Condor (ditaduras militares apoiadas pelos EUA na América Central e do Sul) somente depois de aprender espanhol e ler livros em espanhol sobre a história moderna da América Latina. Graças à cobertura do New York Times em francês, aprendi sobre a dívida esmagadora que o Haiti foi forçado a assumir sob a ameaça de guerra depois de conquistar com sucesso sua independência da França.

Ser bilíngue… significa mudança constante

É normal que os idiomas dos multilíngues mudem com o tempo, dependendo da frequência com que usam cada idioma e do que ouvem com mais frequência na comunidade ao seu redor. Em momentos diferentes, especialmente ao longo de meses ou anos, os multilíngues normalmente são mais proficientes em um idioma ou outro, lembram as palavras mais rapidamente em um e até têm sotaques diferentes! Os idiomas continuam a flutuar em seu cérebro, mesmo para bilíngues ao longo da vida.

Celena: Ser bilíngue para mim significa constantemente aprender, reaprender e trabalhar para manter minha língua de herança, já que não tenho nem de longe a mesma exposição ao chinês hoje em dia que tenho ao inglês. Está claro para mim que não é tão simples quanto apenas tornar-se bilíngue e depois permanecer no mesmo nível de bilíngue para sempre — o atrito linguístico é bem real.

Rick: Parece que não falo nenhuma das minhas línguas completamente. Quando falo holandês com minha família, tenho dificuldade em lembrar algumas palavras e expressões em holandês, então opto por usar as inglesas, então minhas conversas em holandês são 20% em inglês. Quando falo inglês, tenho o mesmo problema, mas de maneira oposta.

Elise (Cientista da Aprendizagem): Meus amigos e familiares holandeses sempre dizem que pareço muito americana agora, o que nunca acreditei — até que ouvi uma mensagem de voz em holandês que enviei a um amigo. Eu estava tipo “Uau, eu realmente não soo assim, não é?”. Parece um falante de holandês muito fluente, cuja primeira língua é o inglês. Quase parece que minha boca e língua assumem uma forma para o inglês e outra para o holandês, mas como elas estão sempre ajustadas para o inglês agora, demoro um pouco para voltar e nunca consigo mudar totalmente para o holandês.

Ser bilíngue… é um jogo constante de mudança de contexto

É muito raro que as pessoas se sintam “equilibradas” em todos os seus idiomas — é natural preferir um idioma a outro, especialmente para certas necessidades ou contextos, e os multilíngues também estão cientes das diferenças sutis entre os idiomas!

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As palavras não estão apenas conectadas a significados em nosso cérebro — elas também estão associadas a pessoas e experiências.

Lidia (Engenheira de Software): Você começa a traduzir diretamente as coisas de um idioma para o outro e, na sua cabeça, faz sentido, mas para outras pessoas você pode estar dizendo bobagens 😂 Às vezes me sinto frustrada quando um idioma tem uma expressão ou maneira melhor de dizer uma coisa específica, mas você precisa falar no outro idioma.

Elise: Para mim, ser uma pessoa não binária e usar pronomes neutros de gênero é muito natural em inglês, mas muito menos em holandês. Falar sobre minha pesquisa de doutorado em holandês também é basicamente impossível. Por outro lado, sou melhor em matemática em holandês porque foi assim que aprendi, e as histórias de família das minhas primeiras memórias são difíceis de contar em inglês.

Ming (Engenheiro de Software Sênior): Uma coisa que notei e com a qual lutei é a completa inadequação para falar sobre tópicos específicos em um idioma, apesar da fluência em outros assuntos. Acho impossível falar sobre ser queer em chinês, e isso afeta meus relacionamentos com as pessoas com quem falo em chinês.

Ser bilíngue… é se acostumar com o idioma errado entrando sorrateiramente

Nossos cérebros são construídos para lidar com vários idiomas, e há muita sobreposição nas conexões cerebrais que lidam com cada idioma. É por isso que misturar idiomas no codeswitching, como no spanglish (post em inglês), é comum, e também é por isso que pode ser difícil manter os idiomas separados!

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Nossos cérebros formam conexões entre palavras semelhantes, sons semelhantes, escrita semelhante e significados semelhantes — mesmo que venham de idiomas diferentes!

Xingyu (Engenheira de Software Sênior): Quando aprendo uma terceira língua, percebo que meu cérebro perde o controle do idioma e começo a soltar palavras em chinês.

Lucy (Cientista de Dados Sênior): Eu tentei usar o idioma local quando viajei e acabei constantemente falando em chinês por engano.

Elisabeth (Engenheira de Software): A fala geralmente sai com “qualquer idioma não fluente que estudei mais recentemente”.

Julie (Engenheira de Software Sênior): Eu falo chinês. Ainda há alguns kanjis japoneses que eu leio constantemente com as pronúncias chinesas hanzi. Como na frase 私は五歳です (watashi wa gosai desu, “Tenho 5 anos”), 五 significa 5 em japonês e mandarim, mas eles são pronunciados de forma diferente. É “go” em japonês, mas na minha cabeça eu pronuncio como “wǔ” (como em mandarim). Eu literalmente não consigo ativar o “modo japonês”! Isso leva a um fenômeno muito estranho em que posso olhar para uma frase japonesa e entender seu significado muito mais rápido do que realmente posso lê-la.

Elise: Nunca me lembro se os provérbios são ingleses ou holandeses, então direi coisas como “Agora o macaco sai da manga” (uma expressão idiomática holandesa). Fica especialmente estranho quando há provérbios relacionados, mas ligeiramente diferentes, como “two birds with one stone” (equivalente a “dois coelhos com uma cajadada só”) e twee vliegen in een klap (duas moscas em um tapa) — direi coisas como “two flies with one stone” (equivalente a “duas moscas com uma cajadada só”).

Ser bilíngue… é um estilo de linguagem só seu

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Nunca “desligamos” totalmente uma língua que conhecemos, mesmo quando não a estamos usando. Está sempre nos influenciando nos bastidores!

Lucy: Seu monólogo interno é sua própria língua que só você realmente entende. Eu cresci com, mas não sou fluente em chinês, então meu monólogo interno é uma mistura de inglês intercalado com as palavras chinesas que ouço ao meu redor com mais frequência e que uso com a família.

Celena: Às vezes sinto que meu cérebro tem diferentes “modos” de idiomas: Se estou no “modo chinês” e espero que falem comigo em chinês, às vezes simplesmente não consigo entender se alguém fala comigo em inglês — no qual sou definitivamente mais fluente! Levo um momento para me reajustar. Uma vez, isso resultou em uma bagunça na interação com um funcionário do aeroporto chinês que não conseguia descobrir em que idioma falar comigo porque ele continuava trocando de idioma mais rápido do que eu podia mudar os modos cerebrais e eu mal compreendia qualquer coisa que ele dissesse, apesar de tudo estar em idiomas que eu conheço…

Ramsey: É legal *e* estranho às vezes pensar em uma palavra ou expressão primeiro em uma segunda língua, ou perceber que a maneira como estou dizendo algo em inglês é resultado da influência de uma segunda língua.

Seu próprio superpoder 

Você encontrará alegria e muitos momentos de “ahá!” em todas as etapas de sua jornada de aprendizado, e treinar seu cérebro para usar um novo idioma tem benefícios para alunos de todas as idades! Se seu objetivo é pedir um café ou viver e estudar em seu novo idioma (post em inglês), você está fazendo algo de bom para si mesmo 💚

Para obter mais respostas às suas perguntas sobre idiomas e aprendizado, entre em contato conosco enviando um e-mail para dearduolingo@duolingo.com.